quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Reminiscências de Margaridinha!



Era num tempo onde a claridade...à noite.. na casa de madeira... se fazia através do lampião acendido pela mãe.. num bufo de gás... que sempre assustava Margaridinha.

Era aquela...uma hora muito feliz na vida da menininha de metro e vinte: as portas eram fechadas e a noite assutadora ficava lá fora apenas observada pela garotinha que tinha medo até de olhar para a grande janela de vidro da cozinha da mãe.

Sentado em volta da mesa de madeira... o pai com um ar de cansaço...depois de um dia de labuta na terra...tomava aquele prato de sopa para esquentar a alma na noite fria do pampa.

A mãe...terminava as últimas lidas na cozinha... esquentando o leite com chocolate...que Margaridinha tomava antes de dormir.

A garotinha de tranças ( assim ela dormia..pois tinha cabelos muito compridos) sentada na mesa em frente ao pai...observava a grande janela que ficava nas costas dele...àquela noite especificamente nada se via...era melhor assim...pois Margaridinha tinha medo das noites de lua cheia...nessas..ela via sempre sombras estranhas que se moviam lá fora da janela...e que papai e mamãe..nunca viam...coisas que ela desconhecia...

O relógio batia horas lentas... tanto quanto o sono que faziam os olhos da garotinha se fecharem sozinhos...e a cabecinha caía sobre a mesa...onde o pai já não estava mais...mamãe então a carregava para a cama..dando-lhe um carinhoso beijo-doce de boa noite!

Hoje...ela observa a noite...mas não pela grande janela de vidro da cozinha da mãe...ela olha da janela do seu apartamento no sétimo andar numa rua qualquer..numa cidade idem.

O relógio bateu horas lentas..tão lentas quanto a batida de um coração apertado que foi buscar as memórias de uma noite qualquer de sua infância. A noite..tem lua cheia....mas os vultos e barulhos não assustam mais..ao contrário..o barulho das ondas do mar..que fica muito próximo...acalma sua alma.

O relógio bateu lentamente..mais uma vez..e ela fecha os olhos deitada na cama...sem esperar pelo beijo-doce de boa noite da mãe que ficou no passado da menininha de tranças...que não existe mais!!!





2 comentários:

  1. ... lindo conto... tão doce...

    bjs bjs bjs

    Saudades de conversar com você...
    Gleuber Militani
    Projeto Reticere

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  2. a docilidade e delicadeza com que são narradas alguns instantes crepúsculares da vida de Margaridinha envolvem o leitor, e o beijo doce da mãe é dado no leitor que se sente envolvido, prestes a carregá-la no colo, como essa coisa frágil que ela aparenta ser....até descobrirmos que Margaridinha não existe mais e que as lembranças dela se confundem com nossas lembranças de uma infância sentida ao lado da personagem, que se tornou outra coisa, ao fechar as páginas...

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