domingo, 25 de setembro de 2011

Reminiscências de Margaridinha: tem gente diferente no mundo!





A vila era um lugar fora do mundo ou era aquele lugar apenas o mundo de Margaridinha. Os costumes do pampa.. agora... pouco lembrados por alguém que procura guardar com regalo as coisas de sua terra e que procura manter viva na sua memória um pedaço de si mesma. Um caso interessante foi quando Margaridinha descobriu que existe gente diferente no mundo!!! a vila tinha filhos ilustres que tomaram o gosto pela cidade grande e que deixavam no campo apenas suas travessuras de meninos. Um dia um ilustre voltou a terra. Era um doutor médico que naquela vila era rei entre os que cuidavam da terra e labutavam no mar. Mas não era o moço bonito que chamava a atenção da garotinha de tranças e seu metro e vinte. Era sim, aquela mulher que ela chamava de esposa. Ta certo!  a moça era branquinha...e parecia esquisito andar de guarda-chuva no meio do campo de um lado e outro em pleno céu azul e brilhante. Em terra de gente curtida de sol que lavora do nascer ao anoitecer era difícil entender que o mundo tinha outra espécie de gente...coisas que Margaridinha achava graça! mas isso não era tudo. Outra coisa estranha chamava a atenção naquela mulher. Eram aqueles olhos! por que eram tão fechadinhos? Olhos tímidos,..pensava a garotinha... pois quase não abriam. Talvez por isso a mulher precisasse de guarda-chuva para protegê-los daquele sol escaldante. Mas Margaridinha descobriu que a mulher tinha vindo de um lugar muito longe chamado Japão. Nome  estranho de lugar... só poderia ter gente estranha também! Margaridinha não sabia que o mundo era tão grande e que existiam pessoas tão diferentes do pequeno mundo que ela conhecia. A partir daquele episódio a menina começou a perceber que o mundo ultrapassava as fronteiras do lugarejo de pessoas iguais onde ela morava. Um dia, pensava os olhinhos azuis no balanço de uma figueira,. ela iria conhecer o mundo que não se limitava a Vila e que talvez fosse muito maior que da tal cidade grande.                      

terça-feira, 21 de junho de 2011

Receita de família





"Preciso me concentrar. É essencial. Por quê? Ora, que pergunta! Família é um prato difícil de preparar. São muito ingredientes.(...)
O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares (...). Não há pressa. Eu espero. Já estão aí?Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados.(...) Não se envergonhe se chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza. (...) atenção com pesos e medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. (...). O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão.(...) Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada- seria assim um tipo de "Família Diet"(...)Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de engolir.(...) Há famílias, por exemplo, que levam muito tempo para serem preparadas. Fica aquela receita cheia de recomendações de se fazer assim ou assado- uma chatice! Outras, ao contrário, se fazem de repente, de uma hora para outra, por atração física incontrolável- quase sempre de noite. (...). Por isso é bom saber a hora certa de baixar o fogo. (...) Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia-a-dia. (...) aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete."     


"Arroz de Palma" . Um livro que emociona: Trecho do belíssimo romance de Francisco Azevedo. Recomendo